A tentativa de censura do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, durante a Bienal do Livro saiu melhor que a encomenda. Afinal, ao investir contra a venda dos livros com temática LGBTQIAP+, ele conseguiu o oposto e direcionou os holofotes exatamente para essas obras literárias.
Em resposta à tentativa de recolher os livros dos quais o prefeito intitulou como “conteúdo impróprio”, as editoras destacaram ainda mais a presença dos livros LGBTQIAP+ em suas prateleiras nos últimos dias da feira.
As editoras que investem na leitura LGBTQIAP+ também usaram as redes sociais para se posicionar contra a ação do governante e fizeram questão de chamar de “censura” o ato perpetrado pelo Poder Executivo do município.
A ação avessa, inclusive, deu início a campanha chamada “Leia com Orgulho”, iniciada pela Companhia das Letras, a maior editora do Brasil, que se posicionou contra a ação de Crivella. E a comoção se estendeu e a hashtag #LeiaComOrgulho com indicações de livros se espalhou nas redes sociais.
E os manifestos contra a ação não pararam por aí. Diversas bandeiras com o símbolo do arco-íris foram erguidas em vários pontos, e próximo à arena #Semfiltro, que tinha como tema 'Literatura arco-íris', o público promoveu um beijaço contra a ordem de Crivella e em repúdio à censura.
Durante a coletiva de encerramento da Bienal do Livro, escritores divulgaram ainda um manifesto assinado, até domingo (8), por cerca de 70 autores, que defende a diversidade e a liberdade de expressão. “Se engana quem pensa que o alvo era a Bienal Internacional do Livro”, afirma o texto. “O alvo somos todos nós cidadãos brasileiros, pois não precisamos ter quem determine o que podemos ler, pensar, escrever, falar ou como devemos nos relacionar".
Em nota, o CEO e fundador da editora Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, afirmou estar orgulhoso com a posição da organização da Bienal do Rio em defesa da liberdade de expressão e da diversidade. “Posturas como a do prefeito Marcelo Crivella e do governador João Doria - que recentemente mandou recolher uma apostila escolar que falava sobre diversidade sexual - tentam colocar a sociedade brasileira em tempos medievais, quando as pessoas não tinham a liberdade de expressar suas identidades. Eles desprezam valores fundamentais da sociedade e tentam impedir o acesso à informação séria, que habilita os jovens a entrar na fase adulta mais preparados para uma vida feliz."
Quer saber melhor o que aconteceu? Entenda o caso
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), anunciou, em 05/09/2019, uma determinação para que os organizadores da Bienal do Livro recolhessem os gibis que mostrassem a capa do HQ “Vingadores: A Cruzada das Crianças”, na qual os adolescentes Wiccano e Hulkling aparecem como namorados.
De acordo com o prefeito, o quadrinho - que teve sua venda esgotada em 29 minutos e não foi encontrada pelos fiscais - oferecia “conteúdo sexual para menores”.
Para não parecer perseguição, a Prefeitura informou que a medida não se tratava de homofobia, mas sim de respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que recomenda que “publicações com cenas impróprias a crianças e adolescentes sejam comercializadas com lacre”.
No entanto, a determinação do estatuto só se aplica nos casos em que há imagens de nudez ou sexo explícito, o que não é o caso livro da Marvel, que traz somente a imagem de um beijo entre dois homens inteiramente vestidos dentro do livro, e não na capa como foi promovido.
#LeiaComOrgulho a seleção de livros LGBTQIAP+ que preparamos para você:
“Irmãos Cafuçus”, a HQ do Ponto Gay
Para quem gosta de uma literatura mais picante, os quadrinhos dos Irmãos Cafuçus é a indicação certa. As HQs pornô-gay trazem histórias cotidianas de quatro irmãos que adoram a boa vida, levar pica e comer bundinhas!
“As Gêmeas Marotas”, assinado por um pseudônimo Brick Bruna
Para quem gosta de sátiras, esse livro é uma paródia adulta dos livros do holandês Dick Bruna, criador da personagem infantil Miffy. A obra portuguesa é bem humorada e vale a leitura.
“Amor é amor’, Geektopia
Vencedora do prêmio Eisner 2017, na categoria Melhor Antologia, a obra “Amor é amor”é uma coletânea de histórias em quadrinhos que mostra a história das vítimas e sobreviventes do trágico atentado de Orlando, ocorrido em junho de 2016.
Assinada pelo selo de histórias em quadrinhos da editora Novo Século, Geektopia, o livro traz mensagens de apoio, confraternização, luta, resistência e amor, e merece ser apreciada por todos os fãs da cultura geek e também por todos que fazem parte dessa luta diária, sendo LGBT ou não.
“Me chame pelo seu nome”, de André Aciman
O livro que virou filme traz a história de Elio, um adolescente que sem perceber se apaixona pelo escritor americano de vinte e quatro anos, espontâneo e atraente, que aproveita a temporada para trabalhar em seu manuscrito e para desfrutar do verão mediterrâneo.
“Ele”, de Sarina Bowen e Elle Kennedy
O livro conta a história de dois amigos e jogadores de hóquei que começam uma complicada e impulsiva paixão. E ao se questionarem se “uma noite de sexo pode estragar uma amizade?”, essa e outras questões sobre si mesmos vão sendo respondidas quando eles se veem como treinadores no mesmo acampamento de hóquei.
“Will & Will”. John Green e David Levithan
O livro conta a história de Will Grayson, garoto hétero, classe média, apaixonado por bandas indie e tentando ser popular, que acaba conhecendo Will Grayson, gay, suburbano, que namora pela internet e detesta Madonna. O livro é uma comédia romântica leve que faz críticas sarcásticas e indiretas à sociedade, tratando de tabus da forma mais natural possível e arrancando boas risadas enquanto os personagens se parecem incrivelmente familiares.
Página interna da HQ, “Vingadores - A Cruzada das Crianças”, alvo de ação que pediu recolhimento da obra da Bienal do Livro. (Foto: Internet)
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